domingo, 22 de agosto de 2010

Complicações da Hipertensão Arterial

Complicações da Hipertensão Arterial

Imagine que, por um defeito qualquer, a água de sua casa seja bombeada pelo encanamento sob alta pressão. De início, talvez você fique satisfeito (a) com o impacto da ducha ou com a força do esguicho no jardim. Mas, com o tempo, as torneiras precisarão de consertos, o filtro da cozinha ficará avariado, os canos apresentarão vazamentos e a mangueira do jardim estará em frangalhos. Gasta por tanto esforço, finalmente a bomba hidráulica começará a falhar, o fluxo diminuirá e o sistema entrará em colapso.

Essa situação não difere muito da que ocorre com o organismo. A hipertensão dilata o coração e danifica o sistema arterial. Mantida por anos e anos, causa problemas a diversas estruturas do organismo:

1. Coração

O coração é um órgão constituído por fibras musculares, encarregadas de bombear o sangue oxigenado e fazê-lo percorrer as artérias e retornar pelas veias. Quando a resistência ao fluxo da corrente sanguínea aumenta, a musculatura cardíaca é obrigada a trabalhar com mais força.

Esse excesso de trabalho muscular causa hipertrofia progressiva das paredes cardíacas, especialmente as do ventrículo esquerdo, encarregadas de impulsionar o sangue oxigenado através da aorta.

A musculatura hipertrofiada reduz o espaço disponível para as cvidades cardíacas, que se tornam menores e com dificuldades progressivas para expulsar o sangue de seu interior. Nas fases finais, a hipertrofia pode ser tão exagerada que o órgão é chamado de “coração de boi”.

Como conseqüência do funcionamento precário do coração. Há retenção de líquido nos pulmões e nos Membros inferiores, surgem falta de ar na realização de esforços, congestão e aumento das dimensões do fígado, além de inchaço nas pernas. A esse quadro damos o nome de insuficiência cardíaca.

Além de insuficiência para enfrentar adequadamente as solicitações dos esforços físicos, o aumento do coração pode acarretar alterações no ritmo dos batimentos: são as palpitações ou arritmias, que provocam falta de ar e sensação de desconforto respiratório. As arritmias cardíacas provocadas por esse mecanismo são uma das causas mais freqüentes de morte súbita.

2. Artérias

Nossas artérias são estruturas elásticas, delicadas, dotadas de uma camada muscular que se contrai (vasoconstrição) ou relaxa (vasodilatação) de acordo com as necessidades do organismo - justamente para manter constante o fluxo de sangue que chega a todos os órgãos e evitar que sejam danificados.

Quando o aumento da pressão é mantido por muitos anos, as camadas musculares que contraem ou dilatam as pequenas e as grandes artérias perdem gradativamente a elasticidade e se tornam endurecidas: é a arteriosclerose (do grego: sklérosis, endurecimento).

A pressão elevada também pode modificar as características da camada fina e delicadíssima que reveste internamente as artérias: o endotélio. Os danos ás paredes internas atraem as plaquetas do sangue para o local, com a finalidade de formar microcoágulos para repará-los.

Essas irregularidades microscópicas surgidas no endotélio facilitam o depósito de gordura e a instalação de um processo inflamatório, que levará á formação de placas de gordura e ao acúmulo de células. Mais tarde, as placas invadirão as paredes arteriais mais internas e constituirão uma barreira a passagem do sangue: é a aterosclerose.


A arteriosclerose e a aterosclerose podem ocorrer em qualquer artéria, mas a freqüência é maior (e causam complicações mais sérias) nas que irrigam coração, cérebro, rins e olhos.


Os depósitos de gordura e a perda da elasticidade afetam com mais freqüência a parte da aorta que atravessa o abdome (aorta abdominal) e as artérias das pernas. Na aorta, podem surgir dilatações chamadas aneurismas e, nas pernas, dificuldades de circulação que provoca dores ao andar.

3. Cérebro

O endurecimento das paredes arteriais e a deposição de placas de gordura em suas camadas internas podem provocar danos á circulação cerebral.

Quando ocorre obstrução ou rompimento de uma artéria do cérebro, o quadro recebe o nome de acidente vascular (AVC) ou derrame cerebral. O AVC pode ser isquêmico ou hemorrágico.


AVC isquêmico

É o mais comum e corresponde a 70 a 80% dos acidentes vasculares cerebrais. O incesante fluxo sanguíneo pelas câmaras cardíacas e através de artérias que possuem placas depositadas em suas paredes pode deslocar pequenos coágulos, capazes de navegar até obstruir artérias cerebrais de menor calibre, privando de oxigênio o tecido nervoso delas dependente.

„« Ás vezes, o suprimento sanguíneo é parcialmente interrompido por períodos curtos (24 horas ou menos). Nesse caso, o AVC é chamado de ataque isquêmico transitório (ameaça de derrame) para diferenciá-lo dos que se instalam por períodos mais prolongados.

„« Dos derrames cerebrais isquêmicos, 80% acontecem em pessoas hipertensas.


AVC Hemorrágico

Ocorre quando um vaso cerebral se rompe, provocando hemorragia que danifica o tecido nervoso. Acidentes hemorrágicos pode ser conseqüência da ruptura de aneurismas-dilatações das paredes artérias - ou de pequenas fissuras no interior das artérias.

Os sintomas dos derrames dependem da extensão e da importância da área cerebral atingida e das funções coordenadas por ela. Os mais freqüentes são: perda de movimento de um lado do corpo, dificuldade para falar, desvio dos lábios para um dos lados, desorientação espacial, tonturas e perda de consciência.

4. Rins

A cada minuto, cerca de 20% do sangue colocado em circulação pelas batidas cardíacas chega aos rins para ser filtrado. Os rins são formados por um conjunto de estruturas microscopias (chamada néfrons), encarregados de filtrar o sangue para retirar da circulação os produtos desprezados pelas células e estabelecer o equilíbrio entre a quantidade de água, ácidos e sais minerais que devem permanecer no organismo.

„« O aumento da pressão e a existência de placas nas artérias que levam sangue aos rins para ser filtrado reduzem o fluxo sanguíneo que circula pelos néfrons,
diminuindo sua capacidade de filtração e permitindo o acúmulo de substâncias tóxicas no organismo.

„« Isso acarretar a diminuição do tamanho dos rins, que perdem progressivamente a capacidade de eliminar substâncias tóxicas – quadro conhecido como insuficiência renal.

Da mesma forma, a incompetência funcional dos rins causada pela pressão alta dificulta a excreção de água e sódio nas quantidades desejáveis. A retenção aumenta o volume de líquido circulante, colaborando para elevar ainda mais a pressão arterial. Com isso, o funcionamento dos rins se torna cada vez mais precário, até comprometer irremediavelmente o processo de filtração.

Boa parte das pessoas submetidas a diálises e transplantes renais chegou a essas condições por causa de hipertensão não tratada.

5. Olhos

A retina, camada que reveste internamente a cavidade ocular, é rica em terminações nervosas essências para a captação das imagens projetadas sobre ela. É também altamente vascularizada. Iluminando-a através de pupila, é possível visualizar no fundo do olho uma rede incrível de pequenas artérias e veias tortuosas.

Nos estágios iniciais da hipertensão, essas pequenas artérias se tornam estreitas e endurecidas. Nas fases mais adiantadas, elas podem ser obstruídas ou mesmo rompidas, provocando hemorragias.

O sangramento destrói as células fotossensíveis da retina a agridem o nervo ótico, estrutura que conduz os estímulos luminosos da retina para o cérebro, causando perda progressiva da visão.



Referência Bibliográfica

- VARELLA, Dráuzio. JARDIM, Carlos. Guia Prático de Saúde e Bem-Estar. Hipertensão e Diabetes. São Paulo: 1ª ed., Editora Gold Ltda, 2009.